segunda-feira, 3 de março de 2014

50 Páginas: Bem Vindo ao Deserto do Real - Slavoj Zizek

No filme Matrix (1999), Neo é introduzido por Morpheus em um mundo caótico e devastado, com a seguinte frase: "Bem vindo ao Deserto do Real". Em 2002,  Slavoj Zizek publica um livro, sob o mesmo título - que na verdade é uma coletânea de 5 ensaios - sobre os efeitos do 11 de setembro no mundo.

Zizek é um teórico marxista, lacaniano e pop. E isso fica claro logo de inicio. Uma das primeiras coisas que pude perceber é a facilidade dele de linkar elementos da cultura pop para elucidar assuntos acadêmicos - o próprio título do livro já nos dá uma pista. Minha cabeça explodiu quando (lá pelo metade da leitura) eu me deparei com essa citação de Matrix. Fiquei surpreso, por não me lembrar de ter
ouvido ela durante o filme (que tem mais de 5 anos que não vejo) e por ela fazer todo um sentido no argumento apresentado por Zizek naquele momento- argumento esse, que eu não estava entendo bulhufas até então. Quem já leu algumas coisa dele pela web já deve estar familiarizado com esse forma de "didática" muito presente em seus textos.

Apesar de linkar quotes de filmes, livro, contos e outras coisas, que acaba por nos dar uma mãozinha, ainda senti uma certa dificuldade para entender alguns de seus raciocínios. Não posso dizer que isso seja culpa do autor. Acredito que o motivo da minha dificuldade seja o fato d'eu ser neófito na filosofia e um completo leigo em psicologia. Como eu disse, além de marxista e pop, ele é lacaniano. E nessas primeiras páginas já vamos encontrar muitos termos e conceitos de Jacques Lacan. Não fiquei na mão, pois antes de ler as primeiras páginas dessa obra eu já tinha lido um outro livro dele intitulado: "Como Ler Lacan", o que me ajudou na compreensão de alguns termos aqui apresentados.

Por não conhecer bem o campo da psicologia, olhar pro mundo (também) através dessa ótica fez eu me sentir como um bebê se aventurando numa maneira nova de se locomover. Tomei uns tombos nuns termos aqui e alí, mas aos poucos fui compreendendo os conceitos apresentados e me "divertindo" com eles. Precisei dar um gloogle uma hora ou outra, mas não comprometeu o que considerei ser uma excelente leitura.
Nessas primeiras 50 páginas já deu pra ter uma ideia do que vem por aí. E me parece ser coisa boa.

A ideia de fazer essas série surgiu da mania que tenho de sempre ler as primeiras 50 páginas de um livro que acabo de comprar (mesmo que eu não vá ler o restante na hora). Faço isso pra saber mais ou menos a que veio aquele livro. Funciona como espécie de "amostra grátis". E a proposta dessa série é justamente essa, ler as primeiras 50 páginas de um livro e falar sobre as primeiras impressões percebidas.

domingo, 12 de janeiro de 2014

As Primeiras Coisas Que Aprendi Sobre o Casamento No Primeiro Mês de Casamento (Parte I)

Uma vez eu vi um humorista dizer que se casar fosse bom não diríamos que "Contraímos o Matrimônio".
"É igual a uma doença. 
-Acho que contraí Matrimônio, vou ao médico ver se tem jeito", dizia ele.

Pois é, amigos, como vocês devem saber, eu CONTRAÍ O MATRIMÔNIO. Estou enfermo de amor. Pode até ser cedo de mais, mas já deu pra aprender algumas coisas nesse primeiro mês de experiência à dois. Já te adianto uma coisa, não há nenhuma novidade transcendental que eu tenha vivido numa espécie de abdução matrimonial que fez de mim um ser iluminado. Ao final você vai perceber que já sabe de tudo que escrevi, talvez só tenha esquecido.

Bom, de cara eu já descobri que casamento não é igual a AEHOOOOO!!! CARTA BRANCA PRA FAZER SEXO UHULL!!! (tá, tbm é!) Digo isto, pois boa parte dos meus amigos são cristãos e é com eles que quero dividir esse aprendizado.
Nós, cristãos, temos uma certa obsessão por tudo que diz respeito a sexo. Os pecados que essa geração de cristãos considera como "pecadão" está sempre ligado à sexualidade - adultério, sexo antes do casamento e homossexualidade estão no topo da lista.

Por conta disso, nosso senso de moral nos deixa mais indignados com o casal de gays que passou de mãos dadas na vista de nossos filhos, do que com o fato de haver um garotinho viciado em crack que vive jogado na esquina da Igreja (e está sempre na nossa vista sendo ignorado). Gera mais escândalo o fato do pastor ter uma amante, do que o fato dele ser um charlatão desonesto. 
Percebe como acabamos mensurando os pecados? Com isso a mente do jovem cristão associa Santidade à Castidade e Casamento à Liberação pra fazer sexo livre sem se sentir culpado.

Mas vou logo te dizer, o sexo é uma pequena fatia desse enorme bolo chamado Casamento. Sério, você vai passar mais tempo esperando ela se arrumar pra "ir ali no mercado" do que fazendo sexo selvagem. Esquece essa ideia infantil de garoto de 15 anos que ainda guarda revista pornô embaixo da cama. O casamento não dá pra dividir em vários pedaços de coisas boas e ruins. Não. O casamento é um conjunto de coisas que vão desde de "vamos ver um filme juntinhos?" até "temos que ir ao mercado fazer compras". Me sinto o Capitão Óbvio escrevendo isso, mas não custa nada te lembrar.

Compartilhar cada momento dessa vida banal e corriqueira com a pessoa que se ama, nisso reside o casamento.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Os Donos do Circo

Como desviar a atenção do povo pra longe dos reais problemas a sua volta?
Os antigos romanos foram os que melhor responderam a essa pergunta.

Espetáculos sangrentos entre gladiadores, execuções públicas em estádios, eram promovidos por governantes para entreter a população romana. Como saco vazio não para em pé, durante às apresentações era distribuído pão para os espectadores. Daí surgiu a expressão conhecida como "Política de Pão e Circo", ou como eles mesmos falavam, panis et circenses. 


Houve um momento que o "Circo" romano era, basicamente, os cristãos. Ser cristão era crime em Roma e como o império romano era o dono do circo, eles juntavam "a fome com a vontade de comer". Quando era constatado que alguém era cristão, esse alguém era condenado e jogado para morte nesses Circos Sangrentos. Assim eles matavam alguns coelhos com poucas cajadadas. Acabavam com aquelas comunidades de subversivos de costumes esquisitos e ao mesmo tempo promoviam espetáculo para o povo, que era entretido pra não ver as mazelas do império.

Passados centenas de anos vemos que hoje os cristãos ocupam lugar diferente nas Arenas de Espetáculo. Os Cristãos, hoje, fazem parte dum seleto grupo chamado Donos de Circo. Apesar de haver mudanças no espetáculo, o modus operandi é o mesmo dos políticos romanos. 
O Circo dos cristãos é promovido por líderes religiosos, políticos e uma espécie de classe artística. Promovem Jornadas Mundial da Juventude, Marchas, Shows Musicais, Cruzadas Milagrosas.... e toda espécie de espetáculo imagináveis.

E a coisa não muda. O mundo a nossa volta continua implodindo. O Brasil, país de esmagadora maioria cristã, continua sendo conhecido como o povo do "jeitinho brasileiro", sofrendo na mão de políticos corruptos, enfrentando desigualdade sociais terríveis, com um sistema de saúde precário...

Os espetáculos promovidos por eles não são para promover mudança, são para entreter das massas. 

O Dono do Circo mudou, mas os métodos são os mesmos.
Alguém já disse um vez: "enquanto te exploram você grita gol". Mas eu te digo: Enquanto te exploram você grita Amém!


Thiago André

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Mutilação de Testículos e Aceitação


No livro/filme "Clube da Luta" o personagem principal sofre de uma terrível insonia. Ele encontra a solução pra esse problema frequentando diversos grupos de apoio. Parasitas do Sangue, leucemia, parasitas do cérebro, câncer nos testículos... Pra cada dia da semana um grupo de apoio diferente. Obviamente, ele não sofre de nenhuma dessas mazelas, ele apenas vai lá pra chorar. É nos seios de Bob, um homem corpulento, eunuco por conta do câncer nos testículos, que nosso personagem derrama sua alma em lágrimas. Curiosamente, depois de se derramar em lágrimas nos seios de Bob, pela primeira vez nosso herói consegue dormir como uma criança. Depois dessa experiência libertadora, ele voltará pelos próximos 2 anos, para chorar nos seios de Bob. Vai lá fingir ter câncer nos testículos pra poder dormir em paz. Ele é um farsante, mas um farsante que dorme como uma criança.


Um tempo atrás, um amigo de trabalho, num momento de irritação me chamou de arrogante. Não com essas palavras cruas, mas com outras palavras, um pouco mais cozidas. "Você se acha melhor só porque fala bonito? Só por falar palavras difíceis?", disse ele (curiosamente o motivo da irritação não tinha nada haver com isso). Por um momento me senti mal. Me senti culpado. Fiquei pensando na minha arrogância e soberba. Não imaginava que eu era esse "tipinho de pessoa" que fala bonito/difícil.


Esse tipo de atitude é uma "cultura" no meu ambiente de trabalho. Os marinheiros são famosos por serem homens promíscuos, que brigam bêbados quebrando bares, arruaceiros, amantes de várias mulheres, boêmios... Não é socialmente aceito nesse meio, amantes da literatura, de boa música, ou de qualquer tipo de arte. Falar “difícil” é uma ofensa ao vocabulário chulo de poucas palavras do homem do mar. Perdi as contas de quantas vezes amigos foram pegos lendo uma literatura qualquer (revista, jornal, livro) e foram indagados se era pornografia. "Não se fazem marinheiros como antigamente", dizem os mais antigos, "Na minha época marujo lia Playboy, não livros".


Acredito que esse clima de "caça as bruxas" não seja só privilégio nosso. Acabamos com um certo sentimento de culpa por ter opções diferentes para ocupação da mente. Falar que leu um livro, ou que viu um filme, ou ouviu uma música, ou que viajou pra tal lugar, ou qualquer outra coisa que seja considerado cult...é ser considerado "aquele tipinho de pessoa". De modo que, o conhecer mais, ampliar horizontes culturais, ouvir novas histórias, se torna quase que um crime. Sentimos vergonha de falar sobre as viagens, museus, musicas, histórias... Pois antes de terminar a frase seremos rotulados e depostos.


Nosso herói em "Clube da Luta" diz: "Bob me ama porque pensa que meus testículos também foram removidos". Acabamos como ele. Nos mutilamos pra sermos aceitos e dormirmos melhor.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

O perigo da história única

"As nossas vidas, as nossas culturas, são compostas por muitas histórias sobrepostas. A romancista Chimamanda Adichie conta a história de como descobriu a sua voz cultural - e adverte que se ouvirmos apenas uma história sobre outra pessoa ou país, arriscamos um desentendimento crítico." descrição original

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Estagnados no dia seguinte


Não vivam ansiosos quanto ao futuro. Não vivam inquietos pelo dia de amanhã, porque o amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.

O código-fonte da revolução que não haverá

O que você só vai entender tarde demais é que Jesus não disse que não vivessemos ansiosos com o futuro porque deveríamos crer que tudo acabaria dando certo no sentido de paz e prosperidade (não deu para ele e para nenhum dos seus seguidores), mas porque enquanto vivemos obcecados pelo futuro não nos forçamos a viver o único momento singular e portanto santo, o presente. Seu “o amanhã cuidará de si mesmo” corresponde ao seu “deixe que os mortos enterrem os seus mortos”.
Hoje dizemos que não se preocupar com o futuro é postura infantil e uma irresponsabilidade, porém o rabi de Nazaré queria o oposto. Viver em função do futuro, explica ele, é idiotizante e infantilizante, e nossa única chance de pisarmos o chão da realidade é nos desprogramarmos desse eloqüente mundo de ilusão.
A sociedade de consumo glorificou a obsessão pelo futuro, transformando-a num modo de vida e num incessante estado mental. Somos idiotas por pré-progamação. Não desfrutamos daquilo que temos, porque nossos olhos estão continuamente postos naquilo que se tudo der certo iremos um dia consumir. Não encaramos de frente o mal de cada dia, porque estamos sempre trabalhando para contornar a obsolescência que virá. Não desfrutamos da segurança presente, porque estamos perpetuamente preocupados com a segurança que devemos adquirir para o amanhã.
Em conseqüência somos obsoletos por padrão, imprestáveis do momento em que saímos da fábrica. Esta geração nada fez e a geração seguinte nada fará, porque nunca estamos aqui. Vivemos estagnados no dia seguinte. Nascemos mortos.

quinta-feira, 28 de março de 2013

O café pendente


“Entramos em um pequeno café, pedimos e nos sentamos em una mesa. Logo entram duas pessoas:
- Cinco cafés. Dois são para nós e três “pendentes”.
Pagam os cinco cafés, bebem seus dois e se vão. Pergunto:
- O que são esses “cafés pendentes”?
E me dizem:
- Espera e vai ver.
Logo vêm outras pessoas. Duas garotas pedem dois cafés – pagam normalmente. Depois de um tempo, vêm três advogados e pedem sete cafés:
- Três são para nós, e quatro “pendentes”.
Pagam por sete, tomam seus três e vão embora. Depois um rapaz pede dois cafés, bebe só um, mas paga pelos dois. Estamos sentados, conversamos e olhamos, através da porta aberta, a praça iluminada pelo sol em frente à cafeteria. De repente, aparece na porta, um homem com roupas baratas e pergunta em voz baixa:
- Vocês têm algum “café pendente”?
Esse tipo de caridade, apareceu pela primeira vez em Nápoles. As pessoas pagam antecipadamente o café a alguém que não pode permitir-se ao luxo de uma xícara de café quente. Deixavam também nos estabelecimentos, não só o café, mas também comida. Esse costume ultrapassou as fronteiras da Itália e se difundiu em muitas cidades de todo o mundo.